sexta-feira, 3 de julho de 2009

António Zambujo - Foi Deus (Trindade)

Outra descoberta por acaso. Cantor da nova geração portuguesa, o Zambujo está renovando o fado, música tradicional portuguesa.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

A Nona Arte



Uma mera notícia, garimpada da internet, me fez trazer à tona um assunto que, para os que me conhecem, é parte de minha vida e uma das minhas maiores bandeiras: as histórias em quadrinhos. Elas me acompanham desde muito cedo. Posso dizer que foi o que iniciou meu gosto por leitura. Era um devorador de quadrinhos, com predileções pelo Maurício de Souza, Ziraldo e sua Turma do Pererê e muita coisa da Disney, especialmente as produções brasileiras como o malandro Zé Carioca e o vagabundo Peninha. Como era difícil comprar esse material sem ter uma renda constante. Por vezes, me via obrigado a vender revistas que tinha para comprar novas. Sorte é que sempre tinha compradores, amigos mais afortunados que eu. Começou então a fase dos super-heróis. Peguei uma época interessantíssima, quando foram publicados materiais que se tornariam clássicos com o tempo. Vem da época maravilhas como “Watchmen” e “A Piada Mortal” do Alan Moore, “Batman – Cavaleiro das Trevas” do Frank Miller e “O Edifício” do Will Eisner, por exemplo. Meus preferidos dessa época eram X-Men e Novos Titãs. Os primeiros até hoje mantêm a fama, pouco tenho a acrescentar sobre a importância que eles tiveram na divulgação dos quadrinhos. Os outros, comecei a conhecer numa fase que talvez seja a mais importante de toda a sua longa história. Fase do Marv Wolfman e do George Peréz, aquelas combinações que soltam faísca e que vemos muito no mundo musical, parcerias perfeitas como Lennon/MacCartney, Bosco/Blanc e Jagger/Richards. Tanto que quando a parceria acabou, caiu sensivelmente a qualidade dos roteiros. Nessa época quadrinho era coisa de criança. Por vezes tinha um pouco de vergonha de dizer que os lia. Sempre era ligado a algo banal, totalmente suplantado pela literatura adulta. E eu, na minha adolescência à busca de afirmação, deixe-me levar por essa idéia preconceituosa e me afastei durantes longos anos do mundo dos quadrinhos. Tornei-me um leitor ávido por clássicos. Esforçava-me ao máximo para tentar entender obras um tanto complexas como os livros do Umberto Eco e do José Saramago, mesmo sem ter base cultural para tal. Afastei-me totalmente do mundo dos quadrinhos exatamente numa fase em que ele enfrentou sua grande crise. Crise criativa basicamente, onde se procurou um primor muito grande por desenhos que se entendiam realistas e se colocou em segundo plano algo que na época em que eu acompanhava.

Foi a época da Image, criada por roteiristas e desenhistas das grandes empresas dos quadrinhos americanos (Marvel e DC), que após uma grande briga por direitos autorais de suas criações, resolveram montar sua própria editora. Como deu certo no começo, as próprias majors seguiram essas características, passando a se preocupar pouco com o conteúdo e muito com formas avantajadas e detalhistas da anatomia de seus personagens. Nessa época começa a acontecer uma mudança interessante nos paradigmas das grandes editoras. Por falta de bons autores e desenhistas no mercado, já que todos os grandes migraram para a Image em busca de maior controle de suas criações, começou-se a buscar novos talentos, agora vindo de diversas partes do mundo. É nessa leva que surgem figuras primordiais para a volta do meu interesse pelo mundo dos quadrinhos: o Grant Morrison vem da Escócia com a sua mente insana e criatividade a mil, Neil Gaiman traz todo o seu mundo onírico para o mainstream da nona arte. E também os brasileiros, sempre em segundo plano no mundo das HQs, começaram a ter espaço para mostrar o seu trabalho. Roger Cruz, Marcelo Campos, Mike Deodato, Ed Benes, Adriana Melo, Ivan Reis e Eddy Barrows são figuras recorrentes nas páginas dos personagens mais famosos das grandes editoras. Passa-se a reconhecer, após um período de turbulência criativa, a necessidade de novas idéias e de um maior desenvolvimento psicológico dos personagens. A Marvel já havia visualizado isso há mais tempo, trazendo para o seu mundo mais conflitos e nuances do que a sua concorrente, a DC Comics, que trazia personagens mais estereotipados, uma divisão mais rígida entre bem e mal, certo e errado. Com o tempo, a DC começou a observar que seus leitores tinham crescido e também ficado mais exigentes. Ao mesmo tempo, observou-se uma necessidade de chamar novos leitores, tentando de alguma forma destrinchar uma cronologia complexa por demais para as novas gerações, afastando-se assim do risco de ver diminuído o interesse por esse tipo de literatura.

O quadrinho dito adulto passou a ser valorizado. Selos foram criados para trabalhar basicamente com um material mais adulto, sem as amarras de um país conservador que dita o gosto dos outros, como são os EUA. Nesse mundo adulto, os brasileiros também galgaram um lugar ao sol. Hoje temos enormes talentos cada vez mais reconhecidos como tal, como é o caso dos irmãos Fabio Moon e Gabriel Bá e o Rafael Grampá, ganhadores de vários prêmios da área. Vemos então um momento de grande interesse pelos quadrinhos, onde ele finalmente está conseguindo aos poucos se livrar da fama de literatura menor. Contribuiu enormemente para isso o prêmio Pulitzer ganho pelo Art Spiegelman. Foi um momento-chave para se compreender o porquê de se chamar tal arte de nona arte, ao lado de outras expressões culturais. Agora temos ao nosso dispor uma gama enorme de lançamentos para todos os gostos e estilos. Podemos ter acesso a grandes mestres do quadrinho moderno, tal como Will Eisner e o Alan Moore, em livrarias, ao lado de grandes clássicos da literatura mundial, algo impensável anos atrás. Venci a vergonha que por alguns anos me dominou e hoje sou um ativista na defesa dessa forma de entretenimento e arte.

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