segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A Primeira Cena

Saio de casa apreensivo. Impulsionado pela novidade, mas temeroso quanto ao meu real talento como ator. A pressão paterna para que seguisse a profissão veio desde o berço. O meu nome é uma corruptela de um famoso ator de TV, portanto desde sempre carreguei o fardo da profissão. Vou até o estúdio andando, pois meu dinheiro está curto desde que saí da casa dos meus pais. Finalmente chego em frente ao estúdio. Sou o primeiro a chegar aos famosos estúdios da Cinédia. Esperava algo mais grandioso, mas o que encontro é um galpão envelhecido, com enormes janelas sujas. Quando finalmente chega alguém, me apresento e finalmente adentro o estúdio. Por dentro sim ele assumia as características de um set de filmagens. De um lado, muitas roupas espalhadas pelo canto do galpão. Enormes torres de luz estão presentes em todo o estúdio, prestes a transformar aquele lugar lúgubre em um ambiente notadamente cinematográfico. Quanta diferença para o teatro que estava acostumado. Tudo é gigantesco, as câmaras parecem enormes seres metálicos prestes a nos engolir. E é assim que me sinto de início, acuado como um cão medroso, frente a um desafio único na minha vida.

Quando soube quem seria o diretor do filme, tremi nas bases. Sempre acompanhei a carreira do Geraldo Neto, e me ver sendo dirigido pelo próprio não estava nem em meus mais loucos devaneios. Encontro meus companheiros de cena e tendo puxar papo. Futilidades a mil rolam. Um quer saber qual seria a maquiagem perfeita para determinada cena. O outro coloca de lado seu texto. Parece autossuficiente demais. Lembro-me de meus dias intensos de ensaio desde que recebi todo o roteiro. Abusei um bocado dos meus colegas de quarto até altas horas da noite para passar as falas.

Finalmente adentra ao galpão o diretor Geraldo Neto. Os outros nem parecem conhecê-lo ou pouco se importam com a figura. Chego junto a ele e me apresento, amplamente temeroso com o tipo de recepção que teria. Ele parece distante, não sinto um entusiasmo em seu rosto, mas mesmo assim começo a discutir o texto com ele, inclusive tendo a audácia de propor mudanças logo rechaçadas. O primeiro take tem minha participação. Coloco-me a postos e finalmente começo a sentir a emoção que é participar de um filme. A minha voz é trêmula, o Geraldo percebe isso e me manda repetir o texto várias vezes. O alívio que sinto ao finalmente ouvi-lo mandando cortar é indescritível. Observo-o tentando animar e provocar os outros atores e caio na dele. Mesmo com todo o meu amadorismo, o teatro fez com que eu aprendesse várias técnicas para relaxar, decorar o texto com maior facilidade. Meus gestos são exagerados, a voz alta e empostada. Logo sou repreendido pelo Geraldo, que explica pacientemente a diferença entre as duas linguagens: “Meu caro Rony, aqui não teremos plateia distante para que você se faça ouvir. Confie na qualidade desses microfones que estão acima de sua cabeça. Qualquer problema de som direto, podemos gravar depois a sua fala. Mas seja o mais espontâneo possível”.

A próxima cena é de ação. Treinei absurdamente para isso. Sabia que o filme teria esses momentos de ação e então treinei muito para não fazer feio. Quando chego no estúdio, sou informado que algumas cenas mais perigosas seria substituído por um dublê. Prontamente neguei o auxílio e me coloquei a disposição das cenas mais perigosas. E essa seria bem complicada. Teria que lutar – e apanhar – de um antagonista. Isso tudo em cima de um muro estreitíssimo. Mesmo duvidando de minhas habilidades circenses assinei o Termo de Responsabilidade para assumir total culpa sobre minha decisão. Quando esperava que um assistente de filmagem mais novo filmasse a cena, eis que vejo o Geraldo caminhando com uma steadycam, em minha direção. O engraçado é que nem grua o mesmo decidiu usar. Ele queria sentir a cena de perto, portanto se colocou atrás de nós, atores, seguindo todos os nossos passos. Confesso que duvidei da sua habilidade para tais cenas. Sempre fui acostumado a vê-lo dirigir cenas de muito diálogo. Mas que bom que estava errado. Ele se equilibrava naquele muro bem perto da cena. Quis torná-la o mais realista possível. E assim foi. Antes de começar a cena, nos orienta: “Quero muito realismo na cena. Nada de socos e empurrões de mentira. Tentem ao máximo sentir-se dentro de uma luta verdadeira”.

Acabo a cena totalmente dolorido. Sento no muro e olho para baixo. Na adrenalina da filmagem mal pude perceber que não havia nenhum equipamento de segurança em caso de queda. E foi o quase aconteceu num momento mais ríspido da luta. Despeço-me do meu antagonista e mal olho para trás para ver a reação do diretor. Noto um certo desprezo dos outros atores. Estou acostumado a uma certa ciumeira no meio. Na próxima cena não participo. Fico sentado no canto relembrando minha próxima cena. Observo o movimento incessante dos técnicos e dos assistentes. Tudo é muito sincronizado. Cada um sabe exatamente seu lugar naquela engrenagem. Os tais seres metálicos pareciam não mais querer me engolir. Sei que tenho muito a aprender, mas ao fim daquele dia cansativo de filmagem pude compreender a extensão e a responsabilidade que tenho em minhas mãos. Agradeci discretamente ao Geraldo. Para diretores tão experientes quanto ele, você nem precisava falar muito. Apenas reproduzir em cena aquilo que ele passava para você. E assim o fiz, com a paixão daqueles que tentam entender o alcance da arte de representar.

sábado, 24 de outubro de 2009

De Volta Para o Futuro

Acordo tenso. Depois de um bom tempo de afastamento, finalmente vou voltar a dirigir um filme. Arrumo meu material com cuidado, nada pode ser esquecido. Tento encontrar dentre as minhas coisas antigas algo que me incentive nesse novo momento, que me faça lembrar dos antigos momentos de glória. Acho aquela cadeira de diretor lá encostada, totalmente suja, nem meu nome aparecia. Corro para o estúdio. Um filme passa por minha cabeça enquanto dirijo. Agora a realidade é bem diferente, realidade dura de quem volta totalmente sujeito a ordem de terceiros. Estaciono o carro e logo encontro o produtor com cara de poucos amigos. Chama-me no canto e declara taxativo: “Quero muita ação e pouca conversa. Temos um prazo curto para filmar. Então seja o mais objetivo possível, por favor!”. Concordo com a cabeça, meio contrariado. Tento dar uma dica simples de mudança no roteiro e sou repreendido: “Nada de mudanças. Filme o que está em suas mãos. Tem muitos diretores que gostariam de estar no seu lugar e te dei essa chance. Não me decepcione!”.

Entro no estúdio e verifico o ambiente de correria ao meu redor. Pergunto pelos atores que estão envolvidos no projeto e pelas pessoas da produção que trabalharão diretamente comigo. Vejo um bando de garotos conversando futilidades num canto do estúdio. Informam-me que são eles que vão trabalhar no filme. Sou apresentado a eles no primeiro dia de filmagem, algo impensável nos meus filmes anteriores. Tento demonstrar interesse no projeto, incentivo aqueles atores notadamente amadores para darem o máximo de si para conseguirem corresponder à chance que lhes foi dada. Passo todas as instruções ao pessoal da direção de arte, escuto atentamente o diretor de fotografia, que me repassa todas as marcações de cena. Finalmente sento naquela cadeira mágica, agora puída depois de tanto tempo sem ser usada. Sinto um frio na espinha, ela já não me parece tão confortável quanto das outras vezes. Dou dez minutos para os atores e todos os outros envolvidos se colocarem em posição. Nesse momento, vejo aquele rapaz afastado de todos os outros, totalmente concentrado no seu texto, mas com um olho atento em todas as minhas orientações. Ele vai se aproximando aos poucos, amplamente tímido, mas demonstrando nos seus olhos brilhantes uma grande sede de aprender. Senta ao meu lado e tenta discutir o texto. Ele sabe que o roteiro não é grande coisa e tenta me provocar para que possa melhorá-lo. Lembro das orientações que me foram passadas pelo produtor e explico ao rapaz que infelizmente pouco posso fazer a respeito.

Finalmente chega a hora do primeiro take. Seria uma cena crucial para o filme, envolvendo muita emoção. Incentivo ao máximo os envolvidos na cena. Tento provocar neles uma excitação que nem eu mesmo sentia no momento. Invoco a memória de atores que trabalharam comigo, dou dicas de posicionamento e de postura diante da cena. Mesmo assim, tenho que filmar pelo menos umas seis vezes a mesma seqüência. Noto que terei problemas para cumprir os prazos estipulados. Os atores são muito verdes, sei que não terei o tempo que queria para ensaiá-los. O rapaz que se aproximou de mim se chama “Rony Tamos”, homenagem meio estranha a um dos grandes atores brasileiros. Ele aos poucos vai perdendo o nervosismo de iniciante e dando um show de interpretação. Tento incentivar os outros colegas em cena, mostro como elas devem ser feitas, me ponho no lugar deles para ver se tiro um pouco de entusiasmo.

Na hora da cena mais perigosa do dia, mando um assistente de direção convocar um dublê. Logo sou informado que ele não seria necessário, que o Rony se dispôs a fazer a cena sem a presença de um dublê. Noto uma apreensão na voz do assistente, mas falo que assinando um termo de responsabilidade, não teria porque eu renegar esse desejo do ator. Normalmente nessas cenas que exigiriam mais de mim, colocava meu assistente para filmar enquanto eu ficava assistindo da telinha, sentado confortavelmente na minha velha cadeira de guerra. Mas dessa vez resolvo fazer diferente. Dispenso o assistente e vou eu mesmo filmar a cena. Ele se assusta, indaga que talvez eu não tenha nem idade nem preparo físico para tanto, mas de pouco adianta. Nunca me arrisquei tanto na vida, mas valeu à pena. Mesmo tendo que filmar a cena pelo menos umas cinco vezes, me senti um pouco como um diretor iniciante, cheio de energia. Finalmente, depois de tanta apreensão, esboço um sorriso verdadeiro. As tomadas seguem em ritmo lento, mas sinto um ar diferente no set, que vai me contagiando também. Aquela cadeira de diretor, prova do quão importante eu fui para a sétima arte, agora parecia mais confortável.

Sinto-me exausto, mas mesmo assim saio um pouco da posição de diretor para ajudar a arrumar o set para o próximo dia de filmagens. Ajudo a escolher os melhores ângulos para a próxima cena. Olho a previsão de tempo para ver se seria possível gravar as cenas externas. Uso minha experiência para ajustar a seqüência de filmagens de modo a evitar atrasos desnecessários. Passo a ser um pouco de tudo no filme: diretor de arte, diretor de fotografia, assistente de direção. E eles não se sentem invadidos, pois sabem que a experiência que adquiri em muitos anos de estrada estão ali ao favor daquele filme sem grandes pretensões.

No final do dia, chega o produtor mais uma vez estressado, e tenta me trazer de volta à realidade ingrata. Mas não consegue. Despeço-me de todos com uma sensação magnífica de dever cumprido. Quando encerro o dia de trabalho, ouço palmas ecoarem pelo set. Até parecia final do filme. Mas não, era sim o recomeço de minha vida.

domingo, 11 de outubro de 2009

Desterro (Reginaldo Rossi) - Celso Sim, Karina Buhr

Mais uma favorita da casa. Senhorita Karina Buhr, do Cumade Fulozinha, cantando uma belíssima música do Reginaldo Rossi (guilty pleasure?). Ela pertence ao vasto mundo criativo de Pernambuco. Mistura elementos populares com música eletrônica e tem uma voz e um estilo de cantar bem diferentes do que se coloca no mainstream. Apreciem! :)

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Cangote - Making Of

Um making of bem legal da gravação dessa música da Céu. Com um componente extra: uma das últimas participações do "Gigante Brasil", que está entre os grandes bateristas da terra brasilis, que morreu em 29 de setembro de 2008, aos 56 anos de idade!

CéU - Cangote

Acho um erro colocar a Céu no balaio de novas cantoras brasileiras. Acho que ela se encontra num lugar a parte. Quando a ouvi pela primeira vez tive a mesma sensação que tive ao ouvir a Bjork pela primeira vez. Não existe nada parecido com o "soco" que você toma quando a ouve pela primeira vez. O cuidado com a produção. Os "barulhinhos" que vão se incorporando aos poucos aos sons, fazendo você ter uma nova descoberta a cada vez que ouve uma música. Letras que se não são geniais, "encaixam" perfeitamente no que ela propõe. Aquele clima "enevoado", com uma voz de uma sutileza ímpar, que se não possui a potência vocal que por momentos passamos a valorizar, tem a leveza de quase que hipnotizar você por alguns minutos. Segue "Cangote", música do seu segundo trabalho!

JOÃO BOSCO - incompatibilidade de gênios (ao vivo)

Gênio! Palavra meio forte, não? Por vezes tão abusadas. Por isso tenho tanto receio em usá-la. Poucas exceções abro nesse "pé atrás". Esse cara é uma delas. Criou um estilo "João Bosco" de cantar e tocar. Faz malabarismos vocais e sonoros perfeitos. Ainda acho que falta um pouco de reconhecimento por parte do público. Mas talvez ele nem queira isso. Queira trabalhar à margem, onde possa compor e executar com extrema maestria e sem grandes cobranças suas canções. No seu último CD, retorna uma parceria que estava de molho por motivos pessoais: João Bosco e Aldir Blanc. A casa recomenda um dos grandes clássicos do virtuose pé no chão. Apreciem sem moderação!

sexta-feira, 3 de julho de 2009

António Zambujo - Foi Deus (Trindade)

Outra descoberta por acaso. Cantor da nova geração portuguesa, o Zambujo está renovando o fado, música tradicional portuguesa.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

A Nona Arte



Uma mera notícia, garimpada da internet, me fez trazer à tona um assunto que, para os que me conhecem, é parte de minha vida e uma das minhas maiores bandeiras: as histórias em quadrinhos. Elas me acompanham desde muito cedo. Posso dizer que foi o que iniciou meu gosto por leitura. Era um devorador de quadrinhos, com predileções pelo Maurício de Souza, Ziraldo e sua Turma do Pererê e muita coisa da Disney, especialmente as produções brasileiras como o malandro Zé Carioca e o vagabundo Peninha. Como era difícil comprar esse material sem ter uma renda constante. Por vezes, me via obrigado a vender revistas que tinha para comprar novas. Sorte é que sempre tinha compradores, amigos mais afortunados que eu. Começou então a fase dos super-heróis. Peguei uma época interessantíssima, quando foram publicados materiais que se tornariam clássicos com o tempo. Vem da época maravilhas como “Watchmen” e “A Piada Mortal” do Alan Moore, “Batman – Cavaleiro das Trevas” do Frank Miller e “O Edifício” do Will Eisner, por exemplo. Meus preferidos dessa época eram X-Men e Novos Titãs. Os primeiros até hoje mantêm a fama, pouco tenho a acrescentar sobre a importância que eles tiveram na divulgação dos quadrinhos. Os outros, comecei a conhecer numa fase que talvez seja a mais importante de toda a sua longa história. Fase do Marv Wolfman e do George Peréz, aquelas combinações que soltam faísca e que vemos muito no mundo musical, parcerias perfeitas como Lennon/MacCartney, Bosco/Blanc e Jagger/Richards. Tanto que quando a parceria acabou, caiu sensivelmente a qualidade dos roteiros. Nessa época quadrinho era coisa de criança. Por vezes tinha um pouco de vergonha de dizer que os lia. Sempre era ligado a algo banal, totalmente suplantado pela literatura adulta. E eu, na minha adolescência à busca de afirmação, deixe-me levar por essa idéia preconceituosa e me afastei durantes longos anos do mundo dos quadrinhos. Tornei-me um leitor ávido por clássicos. Esforçava-me ao máximo para tentar entender obras um tanto complexas como os livros do Umberto Eco e do José Saramago, mesmo sem ter base cultural para tal. Afastei-me totalmente do mundo dos quadrinhos exatamente numa fase em que ele enfrentou sua grande crise. Crise criativa basicamente, onde se procurou um primor muito grande por desenhos que se entendiam realistas e se colocou em segundo plano algo que na época em que eu acompanhava.

Foi a época da Image, criada por roteiristas e desenhistas das grandes empresas dos quadrinhos americanos (Marvel e DC), que após uma grande briga por direitos autorais de suas criações, resolveram montar sua própria editora. Como deu certo no começo, as próprias majors seguiram essas características, passando a se preocupar pouco com o conteúdo e muito com formas avantajadas e detalhistas da anatomia de seus personagens. Nessa época começa a acontecer uma mudança interessante nos paradigmas das grandes editoras. Por falta de bons autores e desenhistas no mercado, já que todos os grandes migraram para a Image em busca de maior controle de suas criações, começou-se a buscar novos talentos, agora vindo de diversas partes do mundo. É nessa leva que surgem figuras primordiais para a volta do meu interesse pelo mundo dos quadrinhos: o Grant Morrison vem da Escócia com a sua mente insana e criatividade a mil, Neil Gaiman traz todo o seu mundo onírico para o mainstream da nona arte. E também os brasileiros, sempre em segundo plano no mundo das HQs, começaram a ter espaço para mostrar o seu trabalho. Roger Cruz, Marcelo Campos, Mike Deodato, Ed Benes, Adriana Melo, Ivan Reis e Eddy Barrows são figuras recorrentes nas páginas dos personagens mais famosos das grandes editoras. Passa-se a reconhecer, após um período de turbulência criativa, a necessidade de novas idéias e de um maior desenvolvimento psicológico dos personagens. A Marvel já havia visualizado isso há mais tempo, trazendo para o seu mundo mais conflitos e nuances do que a sua concorrente, a DC Comics, que trazia personagens mais estereotipados, uma divisão mais rígida entre bem e mal, certo e errado. Com o tempo, a DC começou a observar que seus leitores tinham crescido e também ficado mais exigentes. Ao mesmo tempo, observou-se uma necessidade de chamar novos leitores, tentando de alguma forma destrinchar uma cronologia complexa por demais para as novas gerações, afastando-se assim do risco de ver diminuído o interesse por esse tipo de literatura.

O quadrinho dito adulto passou a ser valorizado. Selos foram criados para trabalhar basicamente com um material mais adulto, sem as amarras de um país conservador que dita o gosto dos outros, como são os EUA. Nesse mundo adulto, os brasileiros também galgaram um lugar ao sol. Hoje temos enormes talentos cada vez mais reconhecidos como tal, como é o caso dos irmãos Fabio Moon e Gabriel Bá e o Rafael Grampá, ganhadores de vários prêmios da área. Vemos então um momento de grande interesse pelos quadrinhos, onde ele finalmente está conseguindo aos poucos se livrar da fama de literatura menor. Contribuiu enormemente para isso o prêmio Pulitzer ganho pelo Art Spiegelman. Foi um momento-chave para se compreender o porquê de se chamar tal arte de nona arte, ao lado de outras expressões culturais. Agora temos ao nosso dispor uma gama enorme de lançamentos para todos os gostos e estilos. Podemos ter acesso a grandes mestres do quadrinho moderno, tal como Will Eisner e o Alan Moore, em livrarias, ao lado de grandes clássicos da literatura mundial, algo impensável anos atrás. Venci a vergonha que por alguns anos me dominou e hoje sou um ativista na defesa dessa forma de entretenimento e arte.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Björk -Joga Live-

Depois de uns dias sem atividades por ser final de período, eis que tento movimentar o blog mais comentado da internet. :)
Com a Björk não tem meio termo, ou ama ou odeia. Ela choca por ser exótica, por trabalhar totalmente contra a maré e por seus trabalhos terem uma opção clara de não agradar totalmente ao mainstream. Ela não quer aparecer bem vestida (vide o vestido de cisne na cerimônia do Oscar), não quer parecer boazinha quando não está bem (a porrada no repórter muitas vezes visualizada prova isso). Coloca em primeiro lugar o seu trabalho, tem uma ânsia em busca do novo e nisso mesmo os seus detratores têm que admitir: não existe nada parecido com o que a senhorita Bjork Guðmundsdóttir faz. Até mesmo na única vez que se dispôs a trabalhar como atriz, exigiu tanto de si mesma que ganhou a Palma de Ouro de Melhor Atriz em Cannes. E também conseguiu um inimigo de personalidade fortíssima como ela, o diretor Lars Von Trier.

Para Ouvir:
Com os Sugarcubes:
- Life's Too Good (1988)
Solo:
- Début (1993)
- Post (1995)
- Homogenic(1997)

Para Ver:

Dançando no Escuro (1990)

quinta-feira, 11 de junho de 2009

A Coisa (Artigo do José Saramago publicado no jornal espanhol El Pais)

Não vejo que outro nome lhe poderia dar. Uma coisa perigosamente parecida a um ser humano, uma coisa que dá festas, organiza orgias e manda num país chamado Itália. Esta coisa, esta doença, este vírus ameaça ser a causa da morte moral do país de Verdi se um vómito profundo não conseguir arrancá-la da consciência dos italianos antes que o veneno acabe por corroer-lhes as veias e destroçar o coração de uma das mais ricas culturas europeias. Os valores básicos da convivência humana são espezinhados todos os dias pelas patas viscosas da coisa Berlusconi que, entre os seus múltiplos talentos, tem uma habilidade funambulesca para abusar das palavras, pervertendo-lhes a intenção e o sentido, como é o caso do Pólo da Liberdade, que assim se chama o partido com que assaltou o poder. Chamei delinquente a esta coisa e não me arrependo. Por razões de natureza semântica e social que outros poderão explicar melhor que eu, o termo delinquente tem em Itália uma carga negativa muito mais forte que em qualquer outro idioma falado na Europa. Foi para traduzir de forma clara e contundente o que penso da coisa Berlusconi que utilizei o termo na acepção que a língua de Dante lhe vem dando habitualmente, embora seja mais do que duvidoso que Dante o tenha utilizado alguma vez. Delinquência, no meu português, significa, de acordo com os dicionários e a prática corrente da comunicação, "acto de cometer delitos, desobedecer a leis ou a padrões morais". A definição assenta na coisa Berlusconi sem uma prega, sem uma ruga, a ponto de se parecer mais a uma segunda pele que à roupa que se põe em cima. Desde há anos que a coisa Berlusconi tem vindo a cometer delitos de variável mas sempre demonstrada gravidade. Além disso, não só tem desobedecido a leis como, pior ainda, as tem mandado fabricar para salvaguarda dos seus interesses públicos e particulares, de político, empresário e acompanhante de menores, e quanto aos padrões morais, nem vale a pena falar, não há quem não saiba em Itália e no mundo que a coisa Berlusconi há muito tempo que caiu na mais completa abjecção. Este é o primeiro-ministro italiano, esta é a coisa que o povo italiano por duas vezes elegeu para que lhe servisse de modelo, este é o caminho da ruína para onde estão a ser levados por arrastamento os valores que liberdade e dignidade impregnaram a música de Verdi e a acção política de Garibaldi, esses que fizeram da Itália do século XIX, durante a luta pela unificação, um guia espiritual da Europa e dos europeus. É isso que a coisa Berlusconi quer lançar para o caixote do lixo da História. Vão os italianos permiti-lo?

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Bruna Caram - Palavras do Coração

Não sei se os meus parcos leitores têm essa sensação,mas quando me deparo com alguma nova descoberta musical, dá uma alegria inominável. A gente vive tão cercado de porcarias, de música de baixíssima qualidade, que é como se a gente fugisse um pouco daquele mundo de preguiça musical e entrasse em uma dimensão de bom gosto e com idéias que se não são novas, pelo menos são usadas de forma competente e autoral. É o caso dessa menina que descobri hoje. Li pouco sobre, sei pouco também mas me chamou muito atenção. Espero que compartilhem comigo esse momento de descoberta. Eis Bruna Caram!

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Wilco - Jesus, Etc (clip)

Dizem que clássicos demoram décadas para serem assim chamados. Talvez para percebemos a real importância daquele álbum, ou daquela música, tenhamos que ter o distanciamento temporal e vê-lo influenciando futuras gerações. Mas sim, existem exceções. Eis aqui uma música clássica de um álbum que já nasceu clássico - Yankee Hotel Foxtrot. Todo o processo complicado de gravação, a briga com a gravadora, confiança no material que tinham em mãos, tudo veio a contribuir para formar uma aura legendária sobre esse álbum. Chamam de alt-country (ou alt-folk, sei lá), eu prefiro não rotular, nem de perfeição, talvez, quem sabe, indispensável para se entender um pouco do rock que se faz por esse século. Rock de qualidade, com lirismo e integridade. Sim, isso ainda existe.


Para ouvir:

Yankee Hotel Foxtrot (2002)

Sky Blue Sky (2007)


Para ver:

I'm Trying To Break Your Heart: A Film By Wilco (2002) - Filme sobre as complicadas gravações do Yankee Hotel Foxtrot.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

buddy holly - dearest - 1969

Grande injustiça a partida trágica e prematura do Buddy Holly. Para quem não lembra da história, ele, junto com o Richie Valens e o Big Hopper, morreram num acidente aéreo em 3 de Fevereiro de 1959. Tal dia foi conhecido como "O Dia em que a Música Morreu" e inspirou o Don McLean a compor uma das músicas americanas mais conhecidas de todos os tempos: "American Pie".
Não gosto de conjecturar muito sobre futuros prováveis mas fico imaginando como seria o rock'n'roll se o Buddy ficasse bem mais tempo entre nós. Seria o Elvis ainda o rei do rock? Vai saber... Só nos basta admirar essa pérola pop que redescobri na trilha sonora de outro favorito da casa, o filme Juno.

sábado, 30 de maio de 2009

Diogo Nogueira , Sururu na Roda e Roberta Sá - A nova geração do samba

Para completar o sábado musical. Uma pequena amostra da nova e talentosa geração do samba. Depois volto a eles!

Manic Street Preachers - The Everlasting

Bom som vindo do País de Gales. O Manic Street Preachers, apesar de não ter um grande alcance popular, sempre se caracterizou como uma banda bastante atuante politicamente falando. Foi a primeira banda ocidental a fazer um show em Cuba após a Revolução. Também é a prova de que uma banda pode sobreviver após a perda de um dos seus principais integrantes. O guitarrista Richey James, autor das músicas da banda nos dois primeiros albuns, desapareceu misteriosamente após um longo período de depressão. Até hoje não foi encontrado o seu corpo, gerando muita polêmica com relação a sua morte. A partir daí o vocalista James Dean Bradfield assumiu a posição de líder da banda.
Para ouvir:
- This Is My Truth Tell Me Yours (1998)
- Know Your Enemy (2001)

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Cinema Paradiso

A primeira lembrança que tenho do meu contato com o cinema são as filas quilométricas que se formavam no bilheteria toda vez que era anunciado um filme novo d’Os Trapalhões. Isso acontecia a cada seis meses, era um momento para lá de esperado por todas as crianças da época. Com a adolescência meu gosto começou a ficar mais diversificado. Nessa época apenas meu primo possuía vídeo-cassete, portanto as primeiras coisas que conheço estão ligadas mais ao gosto dele do que exatamente às minhas escolhas. Anos passaram até que eu conseguisse convencer o meu pai da importância daquele aparelho teoricamente supérfluo. Foi um momento chave aquele em que finalmente ele comprou um video-cassete e finalmente pude escolher aquilo que queria assistir. O primeiro filme foi aquela catarse, até hoje lembro que o vi várias vezes, cada vez procurando elementos novos. A partir daí seguiu-se um turbilhão de novos filmes. Nessa época o que contava era a quantidade, parecia que queria tirar todos aqueles anos de dependência cinematográfica. Era figura cativa na locadora perto de minha casa, amigo de todos os funcionários, sabia até o seu horário de trabalho e eles, por sua vez, incentivavam meu gosto consumista, me empurrando tudo o que tinham direito. Nessa época passei a catalogar tudo aquilo que assistia. Primeiro apenas anotava o nome dos filmes, depois passei a dar notas para tudo que assistisse. Por fim, passei a fazer pequenas resenhas comentando aspectos essenciais de cada obra. Vejo que a evolução deste caderno seguiu um pouco a evolução do meu entedimento da importância do cinema. Primeiro para mim bastava aumentar o número de filmes que tinha anotado, depois passei a preferir que todas as resenhas que fizessem fossem de filmes que realmente tinham algo a dizer. Junto com esse maior cuidado nas minhas anotações crescia em mim um filtro que trocava toda aquela quantidade por uma certa referência do bom e ruim, de quais filmes que realmente me tocam e quais aqueles que vejo só para passar o tempo. Então a quantidade foi se reduzindo e sendo substituída por um pedantismo escondido na busca incessante pela qualidade cinematográfica. Foi nessa fase que passei a consumir vários clássicos: Buñuel, Fellini, Billy Wilder, Woody Allen e Bergman. Mesmo com pouca idade, metia-me a tentar entender filmes muito complexos. Pura bobagem de adolescente tentando se firmar, até hoje talvez não tenha entendido a complexidade e a importância de tais cineastas.
Então finalmente comecei a ganhar meu próprio dinheiro. Não mais dependia de boa vontade paterna para saciar minha sede de cinema. Agora tinha meios de bancar meu gosto por filmes mas tinha que dividir meu tempo mais escasso. Acaba um pouco a fase do adolescente pseudo-intelectual e começa-se a reconhecer um pouco o porquê da magia do cinema. A quantidade já não era mais importante, a qualidade era mais do que necessária, mas não me exigia mais um conhecimento da complexidade das coisas que exigia anteriormente. Consumia o cinema tanto como divertimento como meio de engrandecimento.
Logo surge outra novidade, o DVD. Finalmente poderia ver meus filmes favoritos numa qualidade de imagem compatível com a qualidade do que está sendo mostrado. Mas quando finalmente tenho a oportunidade de ver renovado meu gosto cinematográfico também vejo meu tempo se esvaindo cada vez mais. Trabalho no interior, estudo pela noite, muito cansaço. Então nessa fase diminuiu-se muito a frequência com que me rendia aos encantos da sétima arte. Não conseguia mais dar conta de tudo que queria ver. Ficava por vezes frustrado de ver que quando finalmente eu tinha condições de sustentar meus gostos, não conseguia achar tempo para isso. Meu vício continua vivo, talvez estacionado em alguma parte do cérebro, esperando o tempo de poder reavivá-lo de forma plena. Alimento sempre que posso minha coleção de DVDs na esperança de que um dia saiba administrar meu escasso tempo para poder dar conta de tudo que me dá prazer.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Radiohead - Ceremony

Dois dos favoritos da casa de uma só vez. Radiohead, que acredito dispensar apresentações, toca um cover do Joy Division/New Order.
O New Order talvez tenha sido junto com o Talking Heads a primeira banda de gente grande que aprendi a gostar. Por sorte os descobri em seu auge, em 1989, quando tinha acabado de sair o Technique, na minha opinião o melhor da banda. Para os que não conhecem, o New Order se formou após a morte do vocalista do Joy Division, Ian Curtis, em 1980. Os três integrantes restantes - Peter Hook, Bernard Summer e Stephen Morris - se juntaram à tecladista Gillian Gilbert e criaram uma nova banda. O som do primeiro álbum era uma tentativa de soar soturno como o Joy Division, porém já a partir do segundo (Power, Corruption and Lies) se afastaram da sombra do Curtis e foram definindo a sua nova identidade, mais focada na música eletrônica do que no pós-punk inglês do início da década de 80.
Para Ouvir:
- Power, Corruption and Lies (1983)
- Technique (1989)
- Get Ready (2001)

Para ver:
- 24 Hour Party People
- Control

domingo, 24 de maio de 2009

Save me - Aimee Mann

Dando continuidade a apresentacao dos favoritos da casa, um video da Aimee Mann, ex-vocalista de uma bandinha bem mais ou menos chamada 'Til Tuesday que evoluiu enormemente quando partiu em carreira solo. Seu talento como compositora foi reconhecido quando o Paul Thomas Anderson (Boogie Nights, Sangue Negro) afirmou que escreveu o filme Magnólia (1999) tendo como base suas músicas. É um caso sui generis. Geralmente a trilha sonora do filme se baseia no roteiro. Nesse caso, tivemos uma inversao de influencias. Essa música foi tirada deste filme. Para quem quer conhecer mais desta cantora, recomendo dois CDs em particular:
- 1995 - I'm With Stupid
- 2004 - Bachelor No. 2
A versao dela para Nobody Does It Better, da Carly Simon, é excelente também!

Parabéns, Bob

Hoje é aniversário da talvez maior lenda vida do rock'n'roll. O Sr. Robert Allen Zimmerman faz 68 anos. E continua em plena atividade. Rabugento, imprevisível, com a voz cada vez mais detonada mas genial em suas composiçoes. Sua importancia para a música contemporanea é inegável. Seu estilo de cantar influencia cantores das novas geraçoes. Basta ver a Mallu Magalhaes e o Vanguart, para citar duas novidades do mercado, para perceber de que fonte eles bebem. Escolher uma musica para homenagea-lo é muito complicado, mas talvez tenha escolhido uma das mais emblemáticas de sua carreira, tirada de uma apresentaçao historica. Parabens, Senhor Bob. Que sua integridade e genialidade permanecam por muito tempo combatendo toda a mediocridade que nos cerca.

Man In Black

Johnny Cash talvez seja um dos músicos mais injustiçados da historia da música atual. Contemporâneo de Elvis e com um talento similar, nunca teve o sucesso que mereceu. Após um longo distanciamento da mídia, foi redescoberto pelo produtor musical Rick Rubin e gravou a série de 5 CDs "American Recordings", regravando músicas suas e de outros compositores. Esse clip é belíssimo, foi produzido pouco antes da morte de June Carter, seu eterno amor, e é considerado praticamente o seu epitáfio. A letra é do Trent Reznor, do Nine Inch Nails, mas parece ter sido composta pensando no Homem de Preto, como era conhecido pelos seus trajes. Johnny Cash morreu 4 meses depois de sua esposa, num momento em que sua carreira estava começando a engrenar de novo. Sua história de amor com June Carter foi romanceada no filme "Walk The Line", o mesmo foi interpretado pelo Joaquim Phoenix.

sábado, 23 de maio de 2009

Carta Capital - 15 Anos

Quem me conhece um pouco sabe o quanto admiro o trabalho do Mino Carta, um dos jornalistas mais íntegros que temos atualmente. Mesmo discordando dele em alguns pontos, não há como relevar a importância que ele teve para me incentivar na área. Agora segue um texto que resume um pouco a história da sua criação maior: a revista Carta Capital, que está completando 15 anos:


Como remar contra a corrente

22/05/2009 16:18:28

Mino Carta

Ponto e linha. Claro, objetivo. Pingos nos is. Preto no branco. A nova sobriedade. Back to basics. Direto, confiável. Mais qualidade, menos “flash”. Humor sutil e sofisticado.

O texto é de autoria de Mariana Ochs ao estabelecer os fundamentos do projeto gráfico que CartaCapital põe em prática a partir desta edição. Mariana, diretora de arte respeitada até na Madison Avenue, é velha conhecida dos nossos leitores. Cuidou da fisionomia da revista por três vezes e agora realizamos a sua quarta e preciosa intervenção. Mariana é boa intérprete do princípio dos gregos antigos pelo qual ética e estética são sinônimos. Os esclarecimentos acimaprovam a sintonia com o ideal helênico.

Esta edição é especial e atípica, por ser comemorativa de 15 anos de vida de CartaCapital a começar pela concepção. A qual se deu nestes mesmos dias de 1994, quando quatro jornalistas reuniram-se para inventar seu próprio emprego. Alhures estava difícil. Bob Fernandes, Nelson Letaif, Wagner Carelli e o acima assinado. Quanto ao novo projeto de Mariana, adapta-se à especificidade da edição, mas se mostrará mais claramente, em todos os seus alcances, a partir do próximo número. De linha, digamos assim.

Volto ao quarteto e à enésima aventura. Meu sobrinho Andrea, saudosa figura que se foi cedo demais, comandava a Editora Carta Editorial, fundada pelo pai, Luis Carta, dezoito anos antes. Ausente meu irmão, chamado pela Condé Nast a fundar a Vogue España em Madri, Andrea pilotava a editora e pretendia lançar uma nova publicação, de Economia e Negócios. Procurou-me com o afeto de sempre, respondi: “Sem falsa modéstia, isso eu não sei fazer”.

Luis ligou-me da Espanha, torcia para que eu, desempregado, topasse a parada. Expliquei: “Saberia fazer, creio eu, uma publicação sobre o poder, onde quer que se manifeste, na política, na economia, nos negócios, na cultura, em quaisquer gramados”. A ideia foi aceita. Chamei companheiros de outras jornadas e quinze anos atrás traçamos o plano de uma revista necessariamente mensal por causa dos recursos modestos. Houve hesitações apenas em relação ao seu nome. Alguém sugeriu Carta, eu recusei. Receava que soasse como exigência minha. Andrea queria Capital. Ficou como ficou.

Meados de agosto de 1994, ela foi às bancas. Em março de 1996 tornou-se quinzenal, solidamente amparada no primeiro projeto gráfico de Mariana Ochs. O plano era mais ambicioso quanto à periodicidade. A realização levou, porém, mais de cinco anos. A semanal nasceu na penúltima semana de agosto de 2001, mais uma vez programada graficamente por Mariana. Inicia-se aqui a separação de Carta Editorial e sua substituição pela Editora Confiança. Em seguida à eleição do ex-metalúrgico, em 2002, chovem as calúnias contra uma publicação que ousa remar contra a corrente. Revista chapa-branca, panfleto partidário.

Preto no branco, recomenda Mariana. Temos é uma mídia de pensamento único, leves nuanças não bastam para encobrir a senha geral. CartaCapital empenha-se em exercer o jornalismo em que acredita, baseado na fidelidade canina à verdade factual, na aplicação diuturna do espírito crítico, na fiscalização desabrida do poder. Não se expõe a sardinha à brasa de ninguém com o intuito de favorecer este ou aquele. Respeite-se o império dos fatos, nunca poluídos pela opinião. CartaCapital jamais esconde o fato, não nega, contudo, a sua opinião, e aferra-se a ela.

É quanto basta para inquietar. Às vezes me pego a imaginar o que se daria se fosse brasileira a The Economist, a semanal de maior prestígio no mundo. Ela distribui no Reino Unido pouco mais de 200 mil exemplares, tadinha. Comparem com os números de Veja. Sempre acontece que o planeta se curve diante do Brasil. Pois é, o que não se aquietou nestes quinze anos é a arrogância da minoria, seu exibicionismo provinciano contraposto ao medo pânico de perder os privilégios. Ou, simplesmente, de vê-los ameaçados. Os nossos 15 anos bastaram, no entanto, para convencer The Economist a fechar conosco uma magnífica parceria, que nos habilita a publicar seus textos em perfeita concomitância, como ocorreu com o número de fim de ano, realizado a quatro mãos.

Estética e ética. Opinião exposta sem meios-termos. Ainda exemplos. Na edição nº 30 de agosto de 1996 CartaCapital cavava sua trincheira contra o neoliberalismo em pleno ataque. Estava certa, ficou provado doze anos depois. De Bush, a semanal desde a penúltima semana de agosto traçou o perfil implacável, necessário, porém, no nosso entendimento, logo após a implosão das Torres Gêmeas, setembro de 2001.

Em 2002, antes do pleito presidencial, tomou partido a favor da candidatura Lula, por tê-la como a melhor. Prática comum do jornalismo dos países mais avançados, apontada por aqui, pela mídia da falsa isenção, como deslize moral imperdoável. Incrível, não nos arrependemos. E em 2006, às vésperas do segundo turno da reeleição, denunciamos as mazelas midiáticas urdidas para deter a avançada lulista, graças a uma reportagem de Raimundo Pereira, que certamente contribuiu para despertar algumas consciências.

Nesta edição evocamos nosso tempo de vida. Elegemos personagens e situação representativas do período para trafegar por este trecho de tempo e contá-lo aos nossos leitores. Não pretendemos a abrangência absoluta, a cobertura total. Acreditamos, de todo modo, ter iluminado diversos instantes deste passado recente. Pelo caminho, não descuramos de recorrer ao humor, como Mariana Ochs propõe. A vida, de resto, consagra todos os dias, hora a hora, a simbiose implacável entre a tragédia e a comédia, sem olvidar a farsa.

A ironia é arma afiada contra quem a desconhece. Ainda assim, Raymundo Faoro, mestre de todos nós, cuidava de me precaver: não exagere por esta senda, a maioria pensa que você fala sério. Pois é, às vezes a gente exagera.

Fiona Apple, Elvis Costello - "I Want You"

O blog, além de textos, vai indicar algumas coisas boas descobertas pelo mundo virtual. Esse vídeo é fenomenal. Um ícone da música mundial - Elvis Costello - encontra Fiona Apple, uma das melhores vozes da música atual, na opinião deste humilde servo que vos escreve. Espero que gostem!

sexta-feira, 22 de maio de 2009

O Nada que Vem do Tudo

Sempre quando leio reportagens sobre as facilidades que a internet nos trouxe, ponho a meditar se realmente sabemos nos utilizar desse real poder que nos foi dado. Foco num ponto, como fã de música desde adolescente. Lembro o quanto era difícil há anos atrás achar um LP de alguma banda ou cantor que gostava. Sempre fui meio “do contra” em assuntos musicais. Com um misto de pedantismo e curiosidade em descobrir o novo, fui trilhando meu caminho musical tentando não seguir modismos, totalmente influenciado por amigos mais velhos que eu e com a ânsia de absorver ao máximo as novidades. Minha bíblia foi a extinta Bizz. Foi lá que tive a base para tudo o que sei, que comecei a me interessar por jornalismo e que tive meus primeiros ídolos-jornalistas. Tenho uma adoração por um casal em especial, a Ana Maria Bahiana, que hoje escreve mais sobre cinema, e do José Emílio Rondeau. Todas as minhas lembranças mais remotas vêm de suas matérias e colunas, colocando de forma bem simples o mundo musical que os rodeava sem distanciamento de idade para com os leitores. Sinto falta disso no jornalismo musical de hoje. Com algumas raras exceções, vejo mais jornalistas que mais escrevem releases do que realmente tecem críticas fundamentadas sobre o mundo musical atual. Acho que essa dificuldade em colher informações e em ter senso crítico sobre o que estava consumindo é que me fez dar tanto valor à música de qualidade. Sinto-me meio que um estranho no ninho no mundo virtual e com excesso de informações de hoje. Vejo-me perdido no meio de tantas novidades que não passam do primeiro CD. De tantos rostos que nem conheço serem os tops da semana. Perdeu-se a conexão com o músico. Hoje parece que a gente não ouve música, a música passa por nós numa velocidade espantosa. Tocamos não mais um álbum, e sim músicas aleatórias enquanto fazemos outras tantas atividades. Quase que não existe mais aquele evento que é ouvir um novo álbum, ou a nova música. Viramos consumidores de música no que mais tem de comercial nisso. Consumimos novidade, e não arte. Temos todo o mundo virtual em nossas mãos mas acho que está cada vez mais difícil separar o joio do trigo, espremer o que realmente importa. Fico imaginando, espero que um tanto exageradamente, qual o legado que essa geração de excesso de informações deixará para a história. E por mais que tente me desvencilhar desse novelo, cada vez me vejo mais enrolado nele.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Morena dos Olhos D'Agua

Julho de 2006. Passeava tranquilamente pelas ruas do Rio de Janeiro, quando, não sei bem o porquê, me chamou a atenção um cartaz pequeno em uma lojinha do bairro do Botafogo. Cheguei mais perto dele e qual foi a minha surpresa ao ver do que se tratava. Show com a Mônica Salmaso, minha cantora favorita, naquele mesmo dia. Olhei no relógio, já eram 5 da tarde e o show seria às 8 da noite. Peguei todas as informações sobre o mesmo e saí correndo para a casa da minha tia. No caminho vim pensando, o lugar onde vai rolar o show é meio estranho, pouco conhecido por mim, talvez fosse melhor chamar alguém para me acompanhar. Cheguei à casa de minha tia correndo, mandei mensagem para uma amiga minha que também é fã da Mônica, deixando-a com uma tremenda inveja com a minha sorte. Resolvi chamar alguém para me acompanhar ao show mas, como era esperado, as reações não foram muito positivas. “Mônica quem? Nunca ouvi falar! Toca o que?”. Eu, com toda a paciência, passava todas as informações necessárias. Era uma cantora que surgiu em São Paulo e que era pouco conhecida do público por ser extremamente exigente com o repertório que canta e por tentar fugir um pouco do clichê de cantora brasileira, escapando das músicas básicas e trabalhando num campo mais, como dizer, alternativo. Também explicava que o show seria apenas voz e acordeom. Nessa hora o desinteresse era evidente. “É forró? Mas não tem nenhum instrumento a mais? Putz, deve ser chato que só.” Desisti de tentar arrumar companhia para tal empreitada e corri para a estação mais próxima de metrô.
A ansiedade era tamanha que saí mais de uma hora antes do show começar. O local do show era o Teatro Rival, que fica na Cinelândia, área muito famosa do Rio antigo mas que agora encontra-se um pouco esquecida pela população. Achava que era uma área meio deserta pela noite, já que nunca tinha andado por ali nesse horário. Qual não foi minha surpresa ao chegar na Cinelândia e percebê-la toda iluminada, com barzinhos lotados de pessoas que saíam do trabalho e sentavam ali para conversar um pouco, tomar um chopp e esquecer dos problemas da vida moderna pelo menos por uns momentos. Perguntei onde era o Teatro Rival e a mulher me apontou um beco que fica por trás do Bar Amarelinho. Gelei um pouco mas mesmo assim não podia desistir estando tão perto. Cheguei no beco e avistei o Teatro Rival. Sempre tive uma idéia de opulência do lugar mas quando dele me aproximei vi que era um teatro bem acanhadinho, que vivia mais da fama antiga do que exatamente da sua qualidade. Ao comprar os ingressos fui informado pela mulher da bilheteria que não teriam ingressos individuais, teria que me sentar à mesa com mais três desconhecidos. Eu, na minha timidez reinante, recuei um pouco, mas a vontade de ver a Mônica tão de perto me fez esquecer desse problema clássico com o qual sempre tive que conviver. Entrei no teatro e fui levado à minha mesa. Sentei sozinho pensando que assim iria continuar pois achava que pouca gente conhecia a cantora e que com certeza o teatro não iria chegar nem perto de lotar. Mais uma vez estava enganado. O lugar ficou cheio de pessoas e, claro, três outras pessoas sentaram ao meu lado para assistir o show. E o pior para o tímido, as três se conheciam, então fiquei totalmente um peixe fora d’água. O barulho do local era terrível, as pessoas conversavam ao mesmo tempo e parece que acústica não ajudava o som a escapar. Mas o silêncio que se fez a partir do momento que as luzes foram apagadas foi impressionante. Finalmente a cantora que me fez ter outra visão da importância da música estava ali na minha frente com seu jeito tímido, educado e logo agradecendo a todos pela presença, impressionada, como eu, com a lotação do local, já que os shows dela se baseavam principalmente em São Paulo e não havia muita divulgação para os seus discos, normalmente gravados por pequenos selos. Ao primeiro som de sua voz dos deuses, os aplausos forem estridentes e extremamente sinceros. Eu ficava boquiaberto com tamanha potência de voz. Geralmente as pessoas de voz grave forçam por demais para cantar, você chega a ver as veias saltarem no pescoço. Para ela tudo parecia tão simples, não havia esforço nenhum ao cantar, as notas saíam limpas, fazendo a arte de cantar parecer algo tão simples aos olhos dos leigos como eu. O acordeom era um show a parte. Eu sempre achei um instrumento tão difícil de tocar, pois exigia uma coordenação motora que era coisa de outro mundo para mim, mas trouxe para o show um toque exótico que combinou totalmente com o ambiente que se criou. A interação entre os dois era perfeita. O público reconhecia isso e nem se perguntava pelo resto da banda. Apenas contemplavam estáticos e maravilhados tal momento sublime. O final de cada música era uma catarse. Todo o silêncio que imperava durante as músicas era esquecido durante instantes para homenagear aquele momento. Eu permanecia calado, atento a cada detalhe, tentando perceber cada nuance daquele espetáculo. Meu contato com as outras pessoas era o mínimo, apenas comentários esparsos sobre a excelência do show. Ria muito também de uma pessoa na platéia que ao final de cada música gritava feito um louco: “Canta muito essa mulher!!”. Eu concordava plenamente com aquele afoito rapaz, mas claro nunca teria coragem de pagar esse mico que ele se dispôs a pagar. Levei minha máquina para registrar esse momento mas a produtora do show pediu para que ninguém tirasse fotos para não atrapalhar a apresentação. Respeitei as orientações dela até o meio do show, quando observei que ninguém além de mim estava fazendo o mesmo. Tirei a máquina do bolso e pus-me a registrar para sempre aquele momento único. Como estava distante, as imagens saíam terríveis, mas até hoje mostro a todos com o maior orgulho a prova de que participei de tal momento.
O show foi até curto, no máximo uma hora e meia, mas coloco entre os momentos chave de minha vida, aquele momento em que separamos nossa paixão pela música de algo nada maior do que um entretenimento banal para algo que realmente nos marca como seres humanos, que define momentos de nossa vida, servindo como trilha sonora para todo o sempre. Vi outro show da Mônica aqui em Aracaju dois anos depois mas não chega perto daquele momento único e sublime que presenciei. Apenas serviu para que eu compartilhasse das mesmas emoções que passei com meus amigos, que estavam ao meu lado nesta segunda oportunidade. Ao final do show, pudemos comentar em uníssono: “Canta muito essa mulher!”

Momento Histórico

Como primeiro post real do meu blogui (sic), um texto que fiz para a matéria Lingua Portuguesa

Desde de que me entendo por gente ele era o Tio Albenzio, aquela figura distante, que via com pouquíssima freqüência, mas cujo nome era pronunciado com extrema reverência por todos os outros membros da família Libório. Mantinha com ele uma relação de distanciamento cordial. Lembrava-me sempre de sua voz grave e de sua gargalhada estridente. Mas até então me parecia um ser inatingível, alguém que sempre admiraria mais por história contada por terceiros do que por uma convivência mais profunda. Qual não foi minha surpresa ao saber que nem tio propriamente dito ele era, e sim um primo criado da minha mãe e de seus nove irmãos, criado com todas as dificuldades possíveis como se fosse mais um filho. Agora estava explicado para mim todas aquelas diferenças físicas entre ele e os meus outros tios, uma figura alta e imponente em contraponto ao tipo mirrado de minha mãe e seus irmãos. Sua generosidade era equivalente ao tamanho, característica herdada da família, mas que ele elevou à enésima potência. Após passar por enorme aperto financeiro na juventude, ele conseguiu uma grande estabilidade financeira e nunca esqueceu daqueles que o acolheram. Sempre que possível ajudava os menos abastados da família. Nada parecia forçado ou para demonstrar alguma superioridade. Infelizmente a sorte que ele teve financeiramente não teve na constituição de sua família. Todos detestavam sua então mulher e filhos. Criticavam e muito o fato deles abusarem da sua generosidade para esnobar o seu dinheiro, tendo sempre um ar de superioridade em relação ao resto da família, algo que eles deixavam claro em todas as reuniões familiares que aconteciam.
Um dia recebo uma notícia um tanto surpreendente. Meu tio havia se separado da esposa e se mudado para Curitiba. Alegrei-me ao ver que ele finalmente teria se afastado de pessoas que não traziam vibrações boas à vida dele. Outra surpresa viria logo a seguir. Ao descobrir que eu estava no Rio de Janeiro a passeio, ele começa a articular para que eu fosse visitá-lo em seu novo lar. Finalmente ao ir visitá-lo pude perceber que não havia nenhum exagero em todas as qualidades que eram elencadas por aqueles que tiveram a oportunidade de conviver de maneira mais próxima com ele. Por dois dias ele acumulou a função de tio, guia turístico, historiador, fotógrafo e sociólogo. Mostrava todos os detalhes da cidade, detalhando tudo com uma empolgação comovente. A preocupação com o meu bem-estar por vezes até era sufocante. Durante os dois dias que passei por lá, ele praticamente não foi trabalhar. Bastava que percebesse que o seu sobrinho tinha gostado de algo que ele fazia com que esse desejo se tornasse realidade. Saí de lá estupefato com aquele tratamento, mas ao mesmo tempo observei que aquela pessoa alegre e cordata se sentia por demais solitário, distante da família que ele tanto idolatrava e se dedicava. Por isso toda vez que alguém ia para lá, ele tentava ao máximo se mostrar presente. Parece que com aquelas atitudes, ele se desculpava pela distância física que tinha adotado em relação ao resto da família, potencializando ao máximo as qualidades tão decantadas por todos.
Tive mais duas vezes o prazer de estar em sua companhia. Na segunda vez o mesmo mais uma vez tinha dado um basta em sua rotina, mudando de cidade e se instalando em Bento Gonçalves, nas Serras Gaúchas, talvez numa nova tentativa de conseguir a paz de espírito que tanto buscava desde que se separou de sua primeira esposa. Essa nova mudança teve um motivo forte, ele conheceu numa visita a trabalho à cidade uma cantora de um grupo de imigrantes italianos. Encantou-se por aquela senhora bem mais velha que ele e ao conversar com a mesma após uma apresentação do coral em que ela cantava, descobriu que a mesma tinha um sonho de conhecer a cidade italiana onde nasceu e de onde bem criança teve que se retirar para buscar uma vida melhor aqui no Brasil. Seu coração enorme falou mais uma vez e ele prometeu que um dia viria buscá-la para que ela pudesse satisfazer esse sonho. E alguns anos depois ele voltou e cumpriu a promessa. A história de como os dois se casaram é uma das mais bonitas que tive a oportunidade de escutar. Sua dedicação visceral àquele amor tardio era comovente. A tia Ilda, esse era o seu nome, era bastante doente, problemas gerados notadamente pela vida dura que ela levou ao chegar em nossas terras. Agora visualizava meu tio em um novo momento de sua vida, totalmente feliz e realizado, finalmente encontrando uma família que o acolheu como se fosse um dos seus. Todas as suas qualidades de anfitrião estavam lá, mas agora aliadas a um cuidado com aquele amor tardio que me deixava boquiaberto. Quando saíamos em viagens mais longas pelas cidades vizinhas ele ligava quase que toda hora para o seu lar, para saber como estava passando a tia Ilda, se ela tinha tomado todos os remédios ou se a fisioterapeuta tinha feito a sua consulta diária. Era um amor um tanto transcendental, inclusive para um cético como eu. Saía de lá de espírito renovado, acreditando mais um pouco no ser humano.
Quando recebi a notícia da morte de sua esposa, alguns meses depois dessa segunda visita, paralisei. Não consegui nem ligar para falar com ele, desejar pêsames, nada. Fiquei em casa, calado, imaginando o sofrimento pelo qual aquele homem de feições fortes mas de coração imenso estava passando naquele momento trágico. Por mais que as doenças a viessem definhando pouco a pouco, senti como se fosse alguém muito próximo a mim estivesse indo embora. E senti por meu tio, que encontrou nela a sua âncora para continuar acreditando na vida. Anos depois de sua morte, fui mais uma vez visitá-lo. Pude observar que o amor que ele sentia por ela não tinha se esvaído com a morte. Estava presente nos inúmeros retratos espalhados pela casa, nas vezes que o peguei conversando com tais retratos como se a mesma estivesse viva e em como ele falava dela, como se ela ainda estivesse viva e presente. Pensava no quanto ele me inspirou a ser uma pessoa melhor e ria sozinho das pessoas que ficavam assustadas ao me ver falando entusiasmado de suas qualidades, encerrando sempre minhas impressões sobre ele com uma frase um tanto de efeito mas não menos sincera: “Se existisse eleição para santo, eu já teria o meu candidato”.

Primeiro Post

Depois de ser cobrado por amigos, finalmente resolvi me render e escrever algumas bobagens para os outros lerem. Queria ter mais tempo para atualizar o blog com uma boa frequencia, mas sei que isso será quase que impossível. Mas sempre que possível for, deixarei minhas impressoes sobre o mundo, que espero contribuam de alguma forma para acrescentar algo além do mero cliches à vida das poucas testemunhas que acompanharao esse blogui. Sejam bem-vindos! E sintam-se em casa.

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