sexta-feira, 22 de maio de 2009

O Nada que Vem do Tudo

Sempre quando leio reportagens sobre as facilidades que a internet nos trouxe, ponho a meditar se realmente sabemos nos utilizar desse real poder que nos foi dado. Foco num ponto, como fã de música desde adolescente. Lembro o quanto era difícil há anos atrás achar um LP de alguma banda ou cantor que gostava. Sempre fui meio “do contra” em assuntos musicais. Com um misto de pedantismo e curiosidade em descobrir o novo, fui trilhando meu caminho musical tentando não seguir modismos, totalmente influenciado por amigos mais velhos que eu e com a ânsia de absorver ao máximo as novidades. Minha bíblia foi a extinta Bizz. Foi lá que tive a base para tudo o que sei, que comecei a me interessar por jornalismo e que tive meus primeiros ídolos-jornalistas. Tenho uma adoração por um casal em especial, a Ana Maria Bahiana, que hoje escreve mais sobre cinema, e do José Emílio Rondeau. Todas as minhas lembranças mais remotas vêm de suas matérias e colunas, colocando de forma bem simples o mundo musical que os rodeava sem distanciamento de idade para com os leitores. Sinto falta disso no jornalismo musical de hoje. Com algumas raras exceções, vejo mais jornalistas que mais escrevem releases do que realmente tecem críticas fundamentadas sobre o mundo musical atual. Acho que essa dificuldade em colher informações e em ter senso crítico sobre o que estava consumindo é que me fez dar tanto valor à música de qualidade. Sinto-me meio que um estranho no ninho no mundo virtual e com excesso de informações de hoje. Vejo-me perdido no meio de tantas novidades que não passam do primeiro CD. De tantos rostos que nem conheço serem os tops da semana. Perdeu-se a conexão com o músico. Hoje parece que a gente não ouve música, a música passa por nós numa velocidade espantosa. Tocamos não mais um álbum, e sim músicas aleatórias enquanto fazemos outras tantas atividades. Quase que não existe mais aquele evento que é ouvir um novo álbum, ou a nova música. Viramos consumidores de música no que mais tem de comercial nisso. Consumimos novidade, e não arte. Temos todo o mundo virtual em nossas mãos mas acho que está cada vez mais difícil separar o joio do trigo, espremer o que realmente importa. Fico imaginando, espero que um tanto exageradamente, qual o legado que essa geração de excesso de informações deixará para a história. E por mais que tente me desvencilhar desse novelo, cada vez me vejo mais enrolado nele.

Um comentário:

  1. Messias, essa perplexidade com o fenômeno na música é geral (e vc o disse). Muita informação, pouca informação? Dilema da pós-modernidade? Que nada, dilema da modernidade mesmo(muitos direitos, poucos direitos?), seriamente agravado pelo advento da internet!
    Parabéns e continue escrevendo

    ResponderExcluir

Seguidores